Os seres mais perigosos do universo em “telecatch” razoável.
E não é que o tão comentado ALIEN VERSUS PREDADOR, que vem sendo discutido e prometido há 14 anos, finalmente saiu do papel? Nesta época em que o cinema americano passa por uma fase de ideias pouco criativas, a nova modinha é colocar personagens famosos e queridos do público no mesmo filme. Começou com FREDDY VERSUS JASON no ano passado, um surpreendente (e nem um pouco merecido) sucesso de público. E continua no ano de 2004 com o badalado encontro entre as duas raças alienígenas mais perigosas do Universo. O que virá depois disso? Será o FREDDY VERSUS JASON VERSUS ASH (da série EVIL DEAD), que andam prometendo? Ou algo ainda mais apelativo, do calibre de um MICHAEL MYERS VERSUS PINHEAD (o que também, infelizmente, já foi cogitado, apesar dos protestos dos fãs!)?
Confrontos entre monstros clássicos não são uma novidade, como podem pensar os espectadores mais jovens. Já na primeira metade do século 20, por exemplo, eram feitos filmes como FRANKENSTEIN CONTRA O LOBISOMEM ou DRÁCULA CONTRA FRANKENSTEIN, a maioria uma grande bobagem, realizada com o único objetivo de atrair aos cinemas fãs de um dos dois monstros, enchendo os cofres dos produtores. Os japoneses também adoravam brigas, tanto que colocaram seu lagartão radioativo Godzilla para lutar contra uma infinidade de monstros, inclusive o famoso King Kong! E no México o herói Santo (um popular lutador de telecatch que usava máscara prateada) fez dezenas de filmes nos anos 60, lutando contra alienígenas, múmias e até contra o Homem-Aranha!
Por isso, ALIEN VERSUS PREDADOR não é nenhuma novidade. E, apesar de lidar com dois mortais seres alienígenas, cada um deles com sua própria mitologia e grau de periculosidade, este novo filme é um tanto decepcionante. A exemplo de FREDDY VERSUS JASON, não passa de um grande telecatch, uma luta livre entre os dois personagens principais, mas que não ocupa 20% do filme. O restante é preenchido com uma tentativa infantil de criar um roteiro que mantenha o espectador entretido, o que nem este filme e nem FREDDY VERSUS JASON conseguem fazer a contento. Nos dois casos, o melhor seria ter deixado os monstros lutando por mais tempo, e não colocar tantos personagens secundários e enrolações desnecessárias.
Para quem não conhece nem Alien nem Predador (acontece, sabe como são estas novas gerações…), uma rápida explicação.
O Alien surgiu no filme homônimo, ALIEN, O OITAVO PASSAGEIRO, dirigido por Ridley Scott em 1979. Este primeiro filme é uma produção respeitadíssima, uma das primeiras a dosar de forma perfeita terror e ficção científica, com incríveis efeitos e excelente elenco (Sigourney Weaver, Tom Skerritt, John Hurt e outros). O Alien nasce de um ovo nojento, de onde sai uma espécie de aranha. Ela pula e gruda na face das suas vítimas humanas, que servem de hospedeiras. Qualquer tentativa de separar a “aranha” do rosto da vítima é mal-sucedida, pois o hospedeiro acaba morto do mesmo jeito. Depois de algum tempo, a incubadora morre e o ser humano atacado volta ao “normal“. Na verdade, ele está chocando, sem saber, um filhotinho de Alien dentro do seu estômago, e este vai crescendo até “nascer“, arrebentando o peito e consequentemente matando seu hospedeiro. Já crescido, o Alien se dedica a matar com a cauda ou as garras (mas também com a enorme bocarra, de onde sai uma segunda mandíbula, menor, semelhante a uma cobra). Trata-se de um bicho tinhoso de matar, e que ainda por cima tem ácido no sangue! Seu design arrepiante é do artista H. R. Giger.
Já o PREDADOR surgiu depois, em 1987, no filme homônimo dirigido por John McTiernan, também com um elenco interessante (Arnold Schwarzenegger, Jesse Ventura, Carl Weathers e outros). Trata-se de uma raça extraterrestre que visita diferentes planetas do sistema solar para caçar. Isso mesmo: os Predadores são uma raça de criaturas honradas, uma espécie de “samurais” alienígenas, que combatem outras criaturas que eles acreditam ter condições de enfrentar. Por isso, não atacam pessoas desarmadas ou doentes, a não ser que eles ataquem primeiro. Os Predadores têm visão infravermelha, podendo rastrear suas vítimas pelo calor, e usam roupa de caçador com camuflagem, tornando-se invisíveis para atacar sorrateiramente, e têm um vasto arsenal, com garras, dardos, discos com lâminas, armas laser e até uma bomba atômica portátil, que explodem quando estão mortalmente feridos ou quando são vencidos pela sua presa. Mas isso raras vezes acontece, e os Predadores têm o hábito de esfolar suas vítimas e arrancar o crânio, que guardam em uma bizarra sala de troféus.
Ao contrário dos Aliens, que atacam apenas no espaço, os Predadores visitam a Terra com frequência, acreditando que os seres humanos, por sua agressividade e burrice, são excelentes adversários (tipo, se você fosse a um safári, iria querer caçar um leão, não é verdade?). Acredita-se que os Predadores tenham “caçado” na Terra desde a Antiguidade. No filme PREDADOR 2, por exemplo, eles têm até uma nave espacial enterrada bem no coração de Los Angeles, e ainda guardam armas humanas do século 19 como recordação!
A ideia de unir as duas criaturas em um filme surgiu em 1987, com o sucesso do primeiro filme do PREDADOR. Um ano antes, em 1986, James Cameron tinha lançado ALIENS, O RESGATE (sequência do clássico ALIEN), que ajudou a criar a fama de que os Aliens eram os extraterrestres mais mortais da galáxia. Mas então surgiram os fãs do Predador dizendo que ele sim era uma criatura mortífera e inteligente, e que os Aliens não teriam chance em um combate corpo a corpo com eles (sabe aquelas discussões típicas dos nerds, tipo “quem venceria uma luta, Superman ou Incrível Hulk?“).
Por muito tempo, nerds e fãs do mundo inteiro brigaram para ver quem era melhor, o Alien ou o Predador. E então, em 1989, a editora americana Dark Horse Comics resolveu conceber um duelo entre ambos, enxergando o potencial financeiro do quebra-pau. Foi assim que surgiu a história em quadrinhos ALIENS VERSUS PREDADOR, que mostrava as duas criaturas brigando em um planeta distante, onde vivia também uma pequena colônia de humanos – que, claro, também eram vitimados em meio à guerra. O gibi foi um sucesso e os fãs pediram mais, então a Dark Horse foi lançando, periodicamente, novas versões para o confronto.
Uma das mais recentes releituras do confronto em quadrinhos foi feita em 1998 e chegou a ser lançada no Brasil, também com o título ALIENS VERSUS PREDADOR, pela Editora Mythos. A história se passa na Terra do século 21, onde o japonês Lee Yet Sen mantém-se vivo há 700 anos com uma fórmula extraída do sangue dos Predadores. Para isso, contrata mercenários que incumbe de exterminar os alienígenas, para que ele possa conseguir seu soro da imortalidade. O problema é que um dia Lee encontra ovos de Alien dentro de uma nave dos Predadores e resolve chocá-los para ver o que sai dali… Neste caso, o confronto entre Aliens, Predadores e humanos acontece nos esgotos de Tóquio!
Em meio aos anos 90, Aliens e Predadores ficaram tão famosos que extrapolaram as fronteiras cinematográficas. Jogos de videogames com o tema “Alien Versus Predador” surgiram, para computador e consoles domésticos. Novas sequências foram feitas para seus respectivos filmes (PREDADOR 2 saiu em 1990, ALIEN 3 em 1992 e ALIEN, A RESSURREIÇÃO em 1997), mas os fãs continuavam querendo mais e mais. Assim, as duas criaturas começaram a aparecer com mais frequência nas histórias em quadrinhos, mas não só lutando entre si, mas contra famosos super-heróis da Marvel e da DC. Só aqui na minha coleção eu tenho SUPERMAN VERSUS ALIENS, LANTERNA VERDE VERSUS ALIENS, BATMAN VERSUS ALIENS (o confronto teve duas versões), LIGA DA JUSTIÇA VERSUS ALIENS, PREDADOR VERSUS JUIZ DREED, SUPERMAN VERSUS PREDADOR, BATMAN VERSUS PREDADOR (o confronto teve TRÊS versões!), PREDADOR VERSUS WITCHBLADE VERSUS DARKNESS VERSUS ALIENS e até ALIENS VERSUS PREDADOR VERSUS EXTERMINADOR DO FUTURO, mostrando que não há limites para a criatividade dos roteiristas de quadrinhos!
Com o passar dos anos, também, cresciam as fofocas a respeito de uma versão cinematográfica para o duelo entre as duas criaturas. A ideia ficou ainda mais forte quando estreou o filme PREDADOR 2, pois uma rápida cena na sala de troféus do Predador mostrava, entre os vários crânios de suas vítimas, um que era bem parecido com um crânio de Alien – o que significava que ambos já tinham lutado antes. Em 1992 eram divulgados os planos de fazer uma versão cinematográfica de ALIEN VERSUS PREDADOR, com roteiros sendo escritos e recusados pelo estúdio detentor dos direitos dos dois personagens (20th Century Fox Films). Ainda neste ano, o inglês Peter Briggs (roteirista de HELLBOY) escreveu um roteiro para o confronto, mas ele não foi aprovado pelo estúdio.
E então chegamos ao século 21 e finalmente o projeto teve um aval positivo. Mas não sem que muitas informações erradas fossem divulgadas. Por muito tempo, por exemplo, divulgou-se que Ridley Scott e John McTiernan estariam envolvidos com o filme ALIEN VERSUS PREDADOR, o que revelou-se uma grande mentira. Em uma entrevista, ao ser questionada se faria parte do filme, a atriz Sigourney Weaver (que enfrentou os Aliens nos quatro filmes da série, interpretando a Tenente Ripley) disse que achava a ideia de juntar as duas criaturas “uma grande bobagem“.
Foi quando o estúdio finalmente divulgou que ALIEN VERSUS PREDADOR recebeu sinal verde para o início das filmagens. O diretor inglês Paul W. S. Anderson foi contratado para transformar a tão aguardada peleja em realidade. E resolveu escrever também o roteiro, aproveitando ideias para o confronto concebidas por Dan O’Bannon e Ronald Shusett (roteiristas do ALIEN original de 79). Para envolver-se com o filme, Anderson desistiu de trabalhar em dois outros projetos que estava envolvido: RESIDENT EVIL: APOCALYPSE, continuação do filme que fez em 2002, e MORTAL KOMBAT DOMINATION, outra sequência de um de seus filmes, MORTAL KOMBAT, feito em 1995.
A história de ALIEN VERSUS PREDADOR é um tanto maluca: satélites fotografam uma emissão de calor vinda de uma suposta pirâmide enterrada no gelo, bem no meio da Antártida. A notícia chega à poderosa companhia americana Weyland Yutani, que resolve organizar uma expedição o mais rápido possível para chegar ao local. O presidente da empresa é Charles Bishop Weyland (Lance Henriksen, muito envelhecido), que está com uma doença terminal e resolve participar pessoalmente da expedição para ver “in loco” a descoberta, acreditando que não tem mais muito tempo de vida. Ele contrata os melhores arqueólogos, guias, técnicos e soldados para a operação, e em pouco tempo o grupo todo está indo à Antártida.
A expedição é liderada por Weyland e formada pela guia Alexa Woods (Sanaa Lathan), que está preocupada com o pouco tempo para treinamento do grupo; pelo arqueólogo Sebastian da Rosa (Raoul Bova); pelo técnico Graeme Miller (Ewen Bremner, o Spud de TRAINSPOTTING); pelo mercenário Maxwell Stafford (Colin Salmon, que também trabalhou com o diretor Anderson em RESIDENT EVIL), e outros tantos cujo nome você nem precisa saber porque eles só estão lá para servirem de vítimas.
Sebastian descobre que a pirâmide é formada por elementos de diversas culturas (maia, asteca, egípcia), e que provavelmente foi construída milhares de anos antes de Antártida congelar, feita pelas mãos dos primeiros seres humanos do planeta. Ao chegar no local onde a construção está enterrada, o grupo se surpreende ao ver que um enorme túnel foi cavado, ligando a superfície diretamente ao subterrâneo, da noite para o dia, em 24 horas, o que seria impossível para qualquer equipe de perfuração. Mesmo assim, parte do grupo resolve descer pelo túnel para ver a descoberta, enquanto outros ficam na superfície.
Estes que ficam em terra são as primeiras vítimas dos Predadores, que chegam sorrateiramente em sua nave camuflada. Foram eles, também, que cavaram o túnel para a pirâmide (lógico!). Mas a expedição não sabe disso. Eles estão entrando na construção quando um deles dispara, acidentalmente, uma velha armadilha, descongelando, no último nível da pirâmide, uma autêntica Rainha Alien, aprisionada sabe-se lá há quantos séculos! No momento em que ela retorna à vida, começa a produzir ovos e mais ovos de alienígenas. Ao mesmo tempo, o grupo chega a uma velha câmara de sacrifícios, onde são encontrados esqueletos com o tórax arrebentado, como se algo tivesse saído de dentro do peito deles (todos nós sabemos o que é, mas Anderson quis fazer suspense para a nova geração, que não está familiarizada com Aliens e Predadores).
Enquanto isso tudo acontece, o arqueólogo Sebastian consegue milagrosamente decifrar hieróglifos existentes na pirâmide, que dizem: “Somente os escolhidos podem entrar“, e depois ainda encontra uma forma absurda de abrir um velho cofre, que contém armas futuristas usadas pelos Predadores. Todos ficam fascinados com aquela incrível descoberta, principalmente Weyland, que pede que seus homens recolham os artefatos para estudos. Quando as armas são retiradas do sarcófago, entretanto, a pirâmide “cria vida“, as portas de pedra são fechadas automaticamente e os ovos de Alien chocam, agarrando-se a alguns hospedeiros humanos, gerando monstruosos Aliens novinhos para exterminar o restante da expedição. Não estivesse suficientemente encrencada, virando presa fácil dos Aliens, a equipe humana ainda enfrenta os terríveis Predadores, que também chegaram ao interior da pirâmide e lutam ora com os humanos, ora com os Aliens.
A explicação para essa zorra total vem lá pela metade do filme: aquela pirâmide é a sede de um ritual de iniciação pelo qual os jovens Predadores devem passar para se transformarem em respeitados caçadores no seu planeta. Há milhares de anos, os Predadores chegaram na Terra primitiva e dominaram os primeiros povos, obrigando-os a construírem aquela pirâmide, onde a Rainha Alien foi aprisionada. De tempos em tempos, novos Predadores pousavam naquele local, alguns humanos eram escolhidos para serem hospedeiros dos Aliens e, então, as portas do templo eram fechadas automaticamente para que Aliens e Predadores pudessem se enfrentar nos corredores da pirâmide. Se passasem pelo ritual de iniciação (ou seja, se matassem todos os Aliens), os jovens caçadores marcavam o elmo e a pele e voltavam respeitados ao seu planeta. Se perdessem, teriam que detonar uma de suas bombas nucleares para apagar qualquer vestígio das duas raças.
Tudo bem, a história é meio bobalhona mesmo, e no fim ALIEN VERSUS PREDADOR acaba se tornando um filme tão sem propósito quanto seu antecessor, FREDDY VERSUS JASON. Não há nenhum atrativo no filme além da briga entre as duas criaturas, e mesmo os personagens humanos podiam ser deletados do roteiro sem que fizessem qualquer falta (a maioria deles tem meia dúzia de frases antes de serem mortos por Aliens ou Predadores). Anderson cometeu o mesmo erro de FREDDY VERSUS JASON: ao invés de estender a luta entre suas criaturas, ele prefere enfocar o drama e as ações dos humanos que estão bem no meio do confronto (o mesmo aconteceu no duelo entre o sr. Krueger e o sr. Voorhees). Assim, o espectador até se sente meio enganado, pois Aliens e Predadores só vão lutar mesmo é no final, e mesmo assim o confronto entre as criaturas não chega a durar 20 minutos (algo incompreensível em um filme de uma hora e meia chamado ALIEN VERSUS PREDADOR!!!).
O roteiro medíocre não consegue fazer com que o espectador se importe com o destino dos personagens, mesmo que algumas das vítimas mostrem fotos dos seus filhinhos pequenos momentos antes de serem arrebentadas por uma das raças alienígenas no interior da pirâmide. Também há poucas sacadas criativas, como aquela em que uma vítima está presa num casulo e um ovo de Alien choca à sua frente. Ela consegue pegar uma pistola e matar o alienígena antes que ele pule e se agarre ao seu rosto. O espectador até respira aliviado, achando que o pior já passou. Mas, no momento seguinte, outras dezenas de ovos ao seu redor chocam, e o pobre coitado percebe que não tem balas suficientes para todos eles!
Mesmo os heróis são tão mal construídos que ninguém fica preocupado com sua segurança ou sua chance de sobrevivência. O único personagem interessante na trama é desperdiçado. Trata-se do Charles Bishop Weyland, interpretado por Henriksen, e que é uma citação direta à série ALIEN. Isso porque a sua companhia, a Weyland Yutani, é a mesma empresa responsável pelas expedições espaciais de ALIEN, O OITAVO PASSAGEIRO, ALIENS e ALIEN, A RESSURREIÇÃO. Ao mesmo tempo, o próprio diretor da empresa provavelmente servirá de modelo para a criação do andróide Bishop, que aparece em ALIENS e ALIEN 3 (onde também é interpretado por Henriksen). Isso fica evidente numa cena em que a câmera dá um close na capa de uma revista, com a foto de Weyland, mostrando que sua companhia conseguiu incríveis avanços na área da robótica. E em outra cena, Charles até brinca com uma caneta ao redor dos seus dedos, como o andróide Bishop faz com uma faca em ALIENS. Infelizmente, o personagem não é aproveitado de forma interessante em ALIEN VERSUS PREDADOR e tem um destino pouco heróico. Uma curiosidade é que foi planejada também a aparição do sócio de Weyland, o tal de sobrenome Yutani, que seria interpretado por Peter Weller (o ROBOCOP) – mas a ideia foi abandonada.
Anderson encheu o filme com diversas outras referências às duas séries, principalmente à série ALIEN. Nos hieróglifos dentro da pirâmide, é possível reconhecer um desenho do Alien idêntico ao cartaz do cinema de ALIEN 3, por exemplo. E o diretor/roteirista também acrescentou cultura pop à mistura, batizando o navio que leva a expedição até a Antártida de “Piper Maru” (nome de um barco que apareceu na terceira temporada de ARQUIVO X). Tente “pegar” outras citações.
O melhor do filme acaba sendo, claro, o confronto entre o Alien e o Predador. Infelizmente, a luta não é tão sangrenta e escatológica como deveria ser (ou como a de FREDDY VERSUS JASON, por exemplo), o que é uma pena, ainda mais considerando que ali estão as duas criaturas mais ferozes e mortais do universo. No geral, o filme inteiro é de uma total nulidade no quesito violência. Embora tenha bastante nojeira (nos closes dos ovos de Alien sendo produzidos e chocando), a violência e as mortes são quase todas “off-screen“, mesmo os estômagos dos hospedeiros humanos explodindo para a saída dos Aliens, o que não faz justiça às duas séries. Ora, tanto os quatro ALIEN quanto os dois PREDADOR são filmes violentíssimos, extremamente sangrentos, e nem podia ser diferente. Entretanto, é óbvio que o estúdio queria que ALIEN VERSUS PREDADOR atingisse principalmente os adolescentes, por isso a suavização da violência para obter uma classificação etária menor nos cinemas (PG-13 nos Estados Unidos, ao invés de Rated, como todos os outros filmes da série). Talvez para os adolescentes o filme até cumpra seu papel, com bastante efeitos especiais e ação, mas é simplesmente decepcionante para os fãs das duas cinesséries, e certamente não é “aquele” confronto esperado há 14 anos pelos adoradores de Aliens e Predadores.
O que afunda completamente a proposta do confronto é escolher um dos lados e transformá-lo em “herói“, para que o público torça por ele. A mesma cagada foi feita em FREDDY VERSUS JASON, onde Jason era visivelmente o “bonzinho” da história, enganado por Freddy para que este pudesse voltar do Inferno, de forma que o espectador acabava torcendo para que Jason fosse o vencedor da luta e acabasse com o homem das garras de navalha. Em ALIEN VERSUS PREDADOR, Anderson optou por transformar os Predadores em “heróis“, quando os sobreviventes do time dos humanos resolvem unir forças aos caçadores extraterrestres para destruir os Aliens de uma vez por todas – algo que eu não consegui engolir de jeito nenhum, e soou completamente apelativo, para não dizer medíocre! Melhor seria mostrar os humanos tendo que enfrentar o sobrevivente do duelo, e não unindo forças a este.
Além de infantilóide, o roteiro do filme ainda tem todo tipo de absurdos e furos do tamanho da Antártida, como situar a pirâmide logo no continente gelado (que congelou centenas de anos antes dos primeiros seres humanos aparecerem, tornando impossível que alguma civilização realmente tenha se desenvolvido ali). Outra bobagem é a forma como o arqueólogo Sebastian abre o velho sarcófago no interior do templo, simplesmente mexendo os discos de um calendário milenar e colocando a data do dia em que se passa o filme (outubro de 2004), como se o calendário de um povo milhares de anos anterior a Cristo usasse o calendário gregoriano, que só surgiu centenas de anos depois de Cristo!!! Há ainda o fato inacreditável da pirâmide enterrada no solo em plena Antártida não ter a mínima presença de gelo no seu interior!
Fechando um olho para tudo isso, até que ALIEN VERSUS PREDADOR cumpre seu propósito de divertir. Não é a bomba que alguns críticos disseram. Embora esteja longe de ser um bom filme, pelo menos é uma aventura razoável. O rápido quebra-pau entre Aliens e Predadores realmente vale o preço do ingresso, ainda que o filme seja escuro demais e a violência inexistente. Comparando com a apelação de FREDDY VERSUS JASON, pelo menos aqui temos uma aventura interessante, movimentada e repleta de confrontos entre humanos contra Aliens, humanos contra Predadores e Aliens contra Predadores. Podia ser muito melhor, mas os 90 minutos dentro da sala de cinema não são totalmente perdidos, como no caso do ANACONDA 2, esse sim uma bomba monumental! E o roteiro de Anderson ainda tem o mérito de ser realmente fiel às duas séries, sem inventar nada, como fizeram em FREDDY VERSUS JASON (onde de uma hora para a outra Freddy passou a ter medo de fogo e Jason de água!).
É uma pena, porém, que os dois filmes mais esperados reunindo monstros clássicos (FREDDY VERSUS JASON e ALIEN VERSUS PREDADOR) sejam projetos “meia-boca“, mais voltados a adolescentes, com poucas inovações, que não conseguem fazer justiça aos filmes originais em que se inspiraram. E isso dá o maior medo do que vem pela frente a partir de agora: qual será (e principalmente como será) o próximo confronto cinematográfico? Bem que os produtores, diretores e roteiristas poderiam esquecer um pouco esta idia fracassada (e imbecil) e realmente unirem esforços para fazerem histórias originais, ou continuações decentes, como um novo Alien com a presença da querida Tenente Ripley
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